A guerra da Ucrânia e a Indústria pernambucana
Nos últimos dias o mundo foi surpreendido pela invasão da Ucrânia por parte da Rússia. Em que pese os diversos alertas que o governo Norte Americano vinha dando para essa possibilidade, a maioria dos analistas econômicos entendiam que uma efetiva invasão tinha muito baixa probabilidade de se concretizar, principalmente nas dimensões que tem ocorrido. Uma vez iniciada a guerra, uma questão a ser discutida são os impactos que esta pode trazer para a economia global. Para o escopo do Observatório, a questão específica é “quais os possíveis impactos que a guerra pode trazer para nossa indústria?”.
O volume de transações comerciais do estado de Pernambuco com a Rússia, a Ucrânia ou Belarus não é muito elevado. Mas isso não implica que as indústrias do estado não serão impactadas. Para poder tecer uma análise sobre isso devemos pontuar algumas reações que o mundo tomou e como estas irão impactar no comércio mundial.
Mais do que as sanções comerciais, que podem ser aderidas por alguns países e outros não, houve a exclusão da Rússia e de Belarus do sistema SWIFT, que faz a compensação financeira internacional. Na prática, ainda que países comprem da Rússia, estes não terão como efetuar o pagamento. Então, boa parte dos efeitos da guerra passarão por produtos onde a Rússia é um importante player no mercado mundial. Podemos apontar alguns produtos cuja comercialização afetam mais diretamente o Brasil: 1) fertilizantes; 2) trigo; 3) titânio; 4) petróleo e gás.
O Brasil é um grande importador de fertilizantes daquela região. Segundo informações do Ministério da Agricultura, para a safra que está sendo plantada há quantidade suficiente de fertilizantes disponíveis. Assim, caso não haja intempéries, a produção de milho de safrinha estaria garantida. Já o plantio da safra a ser colhida para o verão de 2023 ainda não está garantido. Mesmo que ocorra uma boa colheita na ‘safrinha’ de milho, é certo que os preços nas bolsas de mercadorias já subiram, uma vez que o mercado financeiro se antecipa à possibilidade de perda de produtividade futura. Na prática, isto impacta nas agroindústrias de Pernambuco, principalmente as ligadas ao corte de aves e à produção de ovos e seus derivados, uma vez que apesar da oferta de milho não tenha sido afetada, os preços internacionais já estão incorporando os efeitos da guerra. Caso não consigam repassar essa elevação de custos para o consumidor final, já que a demanda está retraída pelas políticas do Banco Central, haverá redução de margem nesse segmento da indústria estadual.
Em situação similar, estarão as indústrias processadoras de alimentos que utilizam trigo como insumo. A Rússia é a maior exportadora mundial de trigo, enquanto a Ucrânia é a quarta maior exportadora. No atual cenário que envolve esses dois países, os preços subiram acima de US$ 10,00 o bushel pela primeira vez em mais de uma década. Em 02 de março do presente ano, os contratos com vencimento no mesmo mês, apontavam preço de US$ 10,58, com alta volatilidade durante os pregões de Chicago. Em que pese a existência de estoques de trigo e farinha de trigo nestas empresas, deve ser considerado que a reposição destes não será feita de forma fácil.
A saída da oferta de energia (petróleo e gás) por parte da Rússia já está afetando os preços internacionais. O preço do barril ultrapassou a casa dos US$ 110,00 no início de março de 2022. Um ano atrás os preços estavam em US$ 63,54. Tal elevação, certamente forçará a Petrobrás a manter sua política de aumentos de preços dos derivados, o que tensionará a inflação brasileira. Os efeitos diretos poderão ser sentidos também no preço da energia elétrica se tivermos que continuar acionando termoelétricas a gás ou a diesel. Os aumentos do preço da energia afetam a toda a indústria estadual de forma direta.
Há que se considerar também os efeitos deletérios da guerra sobre a logística internacional. As cadeias de suprimentos já estavam em desalinho por problemas originados na pandemia. Agora, o bloqueio aéreo em parte importante da Europa (incluindo companhias de aviação russas em todo o mundo), o bloqueio de portos na Ucrânia e a guerra sendo travada no Mar Negro poderão complicar ainda mais o fluxo mundial de mercadorias, dificultando a volta à normalidade.
Em síntese, apesar de ainda não ser possível quantificar, os efeitos principais serão a dificuldade de suprimentos de insumos para indústrias que usam milho e trigo e a redução de margens pelo aumento do processo inflacionário.