A inflação norte americana em 2021 e o impacto na economia brasileira e pernambucana
Na última semana foi noticiado que o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) dos Estados Unidos apresentou uma taxa acumulada de 7,04% para o ano 2021, sendo este acumulado anual o maior nos últimos 40 anos. Os resultados provocaram instabilidade em alguns mercados financeiros e levantaram questionamentos sobre como irão se comportar a economia brasileira e, em particular, a pernambucana.
A apreensão dos mercados é decorrente dos desdobramentos ocorridos na década de 1980, quando a inflação dos Estados Unidos estava neste mesmo patamar. Para controlar a inflação o Federal Reserve – FED (banco central norte americano) iniciou um processo de elevação de juros que foi extremamente danoso à economia brasileira naquela época. Este mecanismo será novamente utilizado, porém a conjuntura atual é aposta a apresentada naquela década.
Os preços americanos vêm sendo pressionados por dois principais vetores:
- O primeiro está diretamente ligado as dificuldades de abastecimento das cadeias produtivas, causadas pelo aumento de casos relacionados a Covid-19, já que houve uma redução/parada da produção de importantes centros industriais que fornecem produtos acabados e/ou semielaborados para todo mundo. Esse movimento em um ambiente de baixos estoques, devido ao sistema just-in-time, fez com que inúmeras cadeias produtivas do mundo todo fossem afetadas. Após a retomada da produção, o gargalo passou a ser o transporte entre os países, com diversos portos apresentando congestionamento de navios e de contêineres. Este vetor também atingiu o Brasil e é responsável pelo nosso atual patamar de preços.
- O segundo está ligado à política macroeconômica expansionista adotada naquele país. Desde a última crise financeira os bancos centrais de todo o mundo vinham mantendo política monetária extremamente expansionista, com taxas de juros muito baixas, praticamente próximas de zero. Para tentar frear esse problema o FED deverá aumentar a taxa de juros para conter a demanda, fazendo com que a economia norte americana cresça com menos vigor, fornecendo assim o tempo necessário para que a oferta volte a crescer até o encerramento dos problemas logísticos.
A elevação da taxa de juros da economia americana pode provocar uma redução dos investimentos em renda fixa no Brasil feitos por estrangeiros, pois estes, irão seguir a segurança de títulos norte-americanos. Essa fuga de capitais pode tensionar o câmbio ainda mais, mantendo o nosso processo inflacionário mais intenso e obrigando o nosso Banco Central a elevar ainda mais a taxa SELIC. Este cenário levaria a uma queda na atividade econômica e uma dificuldade na redução do desemprego em nosso país.
Mesmo com este cenário é necessário lembrarmos que o Banco Central brasileiro iniciou em 2021 o processo de elevação de juros, e desta maneira é como se tivéssemos antecipado a elevação do FED. Certamente, os setores brasileiros muito ligados à exportação estão com perspectivas mais pessimistas no momento, com exceção daquelas commodities onde os estoques estejam baixo demais.
Como os setores industriais pernambucanos são majoritariamente voltados ao mercado interno, a preocupação está em quanto o Banco Central ajustará a curva de juros para responder aos anúncios da elevação norte-americana. Se não forem necessárias fortes elevações na SELIC, o processo de controle inflacionário mundial terá um efeito mais positivo do que negativo para a economia pernambucana.